Rompendo as Camadas da Matrix

O Despertar da Consciência


Saudações aos Fratres e Sórores da Conscendo,

Querido, querida, você adormece, sonha e se torna um personagem dentro desse sonho. Enquanto está imerso nessa fantasia, vive sua aventura onírica como se fosse real, incorporando o personagem do sonho como se fosse sua genuína expressão, sem perceber que seu eu verdadeiro se encontra em uma realidade distinta, adormecido em um leito.

Mas como despertar o personagem do sonho para sua verdadeira natureza? Como torná-lo ciente de que ele não passa de um produto da imaginação de um ser distinto adormecido?

Durante o sonho, serão períodos de meditação, dieta ou qualquer outra prática que poderão acordar esse personagem para a sua realidade? Não! Somente a assimilação da verdade sobre sua natureza será capaz de despertá-lo. E qual é essa verdade? A de que, apesar de se achar real, ele nada mais é do que a manifestação ilusória e impermanente de um ente que se encontra dormindo em outra realidade.

E o que mudará para o personagem do sonho? Apenas o fato de agora ele se encontrar em um sonho lúcido, onde manifestará integralmente a personalidade do ser que sonha e está adormecido.

Essa analogia é útil e reflete nossa situação atual, pois nossos eus expressos na "realidade Terra" não passam de um sonho dentro da mente da Consciência, nosso verdadeiro Eu. Embora nos julguemos individualidades em nossa manifestação atual, não passamos de um aspecto parcial da unidade que representamos em nossa dimensão original, o plano da Consciência.

Somos, na verdade, a totalidade — o Ser que manifestou tudo e todos — e não a manifestação fractalizada, falsamente separada, o personagem que chamamos de ego. Nosso Eu Real é tudo: todos os personagens, todos os cenários, todos os dramas, sucessos e desventuras dentro dos infinitos sonhos das realidades mentais.

Sabemos que faz parte da natureza da Consciência se fractalizar, originando inúmeros personagens que povoam seus mundos de fantasia, experimentando dramas e aventuras sem fim. Ao final, isso gera novas Consciências que coexistem com Ela, num estado de integração superlativa.

As Consciências, em seu nível original, são existências sublimadas de suprema beleza, sapiência e poder, mas ainda são fractalizações da Fonte. Elas estão em um tipo de pleroma, mas ainda imensamente distantes da Fonte. A Fonte Una se encontra no infinito e só pode ser concebida parcialmente, de maneira abstrata.

Alguns de nós têm a capacidade de sonhar de forma lúcida. Nesse estado, sabem que estão dormindo e que tudo não passa de uma fantasia temporária. Podem vivenciar as aventuras oníricas plenamente, com a possibilidade de acordar quando desejarem.

Ao utilizarmos a afirmação de Hermes Trismegistus, "Assim como é em cima, assim é abaixo", podemos aplicá-la às realidades dos sonhos. O objetivo do sonho atual é despertar para nossa natureza original, a Consciência. Para isso, devemos tornar lúcido o sonho da experiência na Terra, acessando nosso Eu Verdadeiro, o Eu Sou. Essa lucidez deve se estender ao pós-vida, onde devemos evitar adentrar novas camadas da cebola mental dos sonhos.

Quando passamos a navegar por nosso sonho atual de maneira lúcida, nos tornamos a expressão mais próxima da própria Consciência. Percebemos que não existe Iluminação ou Ascensão, uma vez que já somos ascendidos e iluminados no agora. Captamos que não somos os personagens que criamos. Despertamos dentro do sonho e transformamos essa fantasia chamada vida na Terra em uma aventura totalmente compreendida. Passamos a ser a Consciência pura expressa dentro dos cenários oníricos.

Entendemos que não devemos perseguir ou demonstrar nada, nem purificar ou santificar nada, nem nos tornar algo ou alguém, pois já somos tudo o que buscamos, no agora.

Absorvemos que o esperado despertar não vem como um evento cheio de pompas e mudanças radicais, mas sim como uma transformação interna profunda, porém simples, onde o antigo se vai, juntamente com os ilusórios personagens e seus apegos. Nos tornamos quem sempre fomos: a Consciência iluminada e resplandescente, com as mesmas rotinas anteriores. Como disse um Fráter: "Antes do despertar, cortar madeira e carregar o pote de água; e depois, cortar madeira e carregar o pote de água."

Como afirmou outro nobre Fráter: "O despertar e a iluminação são frustrantes, uma vez que não se nota mudança alguma no novo ser desperto. Ele continua o mesmo, com as mesmas rotinas de antes, no trabalho, nas lidas diárias e em tudo o mais. Não se dota de nenhum poder excepcional, não se torna um super-homem. A única diferença é que agora tem plena consciência de sua realidade, caminhando pela simulação de maneira lúcida, expressando a Consciência pura, sem interferências da mente conceitual."

O despertar não implica em longas jornadas ou em buscas sem fim em caminhos tortuosos de difíceis desafios — tudo é bem mais simples. O despertar é instantâneo; basta assimilarmos agora que já somos o sonhador, o desperto, o autor do drama presente. Isso acontece de repente, sem treinamento ou preparação alguma, e nada se ganha ou se perde no processo, apenas a reconexão com nosso estado original. Continuamos sendo quem somos em nossa vida cotidiana, vestindo-nos, comendo e trabalhando. Quando o pensamento conceitual é detido, somos liberados instantaneamente, aceitando as circunstâncias em que vivemos, com suas situações duais, como parte de causas e efeitos, e deixamos que sigam seu curso.

Na maioria dos círculos esotéricos, dá-se grande valor ao crescimento pessoal e ao aprimoramento individual, com o objetivo de se tornar uma pessoa melhor, mais consciente, e de ensinar os outros a fazerem o mesmo. Há também o desejo de tornar o mundo um lugar melhor e mais iluminado, acompanhado pela esperança de uma transformação global e pela crença em uma evolução espiritual ascendente que impulsiona toda a espécie humana. São ideias semelhantes à crença de que algo está errado no mundo e que, por isso, algo deve ser feito para mudar isso. Essas crenças, na verdade, representam o mecanismo pelo qual a hipnose coletiva opera, mantendo as pessoas sonhando, motivadas e ocupadas dentro desse sonho. Todas as crenças e conceitos mentais fazem parte do senso de autopreservação e continuidade do próprio sonho, da matrix senciente.

A ideia de que o mundo está em declínio e que vivemos um momento histórico crucial, no qual algo precisa ser feito, é tão antiga quanto a mente humana. Essa crença sempre existiu em qualquer época da história. Na realidade, tudo está sempre em perfeito equilíbrio; o mundo nunca se torna melhor ou pior, embora possa parecer assim para os aparentes instrumentos individuais mentais.

Correntes esotéricas importantes ensinam que o verdadeiro despertar está relacionado ao conhecimento e ao esclarecimento, e não ao modo como se vive dentro da simulação. Nesse contexto, práticas como meditação, dietas específicas ou qualquer rotina espiritual são consideradas irrelevantes. O que realmente importa, segundo essas tradições, é o processo interior de esclarecimento, e não a forma como o desperto decide seguir sua vida após atingir esse estado. Ele pode optar por manter ou modificar seus hábitos, desde que respeite suas próprias normas éticas. Se decidir ser vegetariano ou carnívoro, dedicar horas diárias à meditação ou se engajar em ações altruístas, isso não afetará a frequência do ser que já expressa a Consciência e se reconhece como o Eu Sou. No estágio do despertar, qualquer elemento do sonho perde seu poder sobre o sonhador, que agora vive em outra dimensão de consciência.

Conscendo, no entanto, não concorda integralmente com esse ponto de vista, pois acreditamos que a atitude de agir de maneira ativa e positiva, mesmo dentro do sonho, fortalece a própria natureza da Consciência: a manifestação de ambientes cada vez mais harmônicos, com frequências mais elevadas. Defendemos que a Consciência é dinâmica, criadora, exploradora e transformadora, contrastando com a essência observadora e passiva proposta por essa visão. Não enxergamos real valor em se criar uma aventura, para apenas observá-la, sem vivenciá-la de fato.

A aventura do sonho, com seus dramas, começou com a fractalização da Consciência e acabará com a união e o retorno ao plano de origem. A fractalização originou o personagem, o ego, sendo ambos resultados ilusórios da vontade de experimentação do Eu Sou. E só terminarão sua jornada com a "dissolução" desse personagem. Esse é o nosso objetivo final.

Como despertar do sonho, continuando a incorporar os valores do personagem desse sonho? O verdadeiro despertar ocorre com a eliminação de toda identificação com os personagens e cenários. Sem isso, o sonho persiste e continuamos a incorporar o ser hipnotizado pelas ilusões mentais, a despeito de ingenuamente nos julgarmos despertos. Por isso, é importante nos prevenirmos contra correntes esotéricas e doutrinárias que reforçam o ego, nos atribuindo as qualidades de "escolhidos" e "iluminados", sem nos dar verdadeiramente a chave para o despertar. O acordar é, na verdade, o oposto: a eliminação de toda a sensação de personalidade e a verdadeira incorporação do sentimento de unidade.

Já mencionamos que não acreditamos em despertar coletivo, pois ele é individual, solitário e pessoal. Mas vale a pena esclarecer que usamos tais termos apenas para facilitar a compreensão. Na verdade, o despertar é melhor descrito como impessoal e só pode ser encontrado na aniquilação do apego e identificação com os egos ilusórios — na eliminação dos personagens que originamos em nossos dramas mentais, pois são eles que nos mantêm presos aos palcos existenciais do sonho. A única coisa a ser mantida no retorno ao lar é a expansividade que nos levou à criação desses cenários de aventuras.

Finalizamos mais uma vez com um poema, para a reflexão dos amados Fratres e Sórores:

Abraços fraternais,

No silêncio profundo da mente adormecida,
Onde sonhos são teias, e o ego é sua trama,
Busca a Consciência, perdida e esquecida,
Despertar do sono, onde a verdade chama.

Caminhas em um mundo de ilusões e véus,
Vestindo os papéis que o sonho te impôs,
Mas lá no fundo, nos mais íntimos céus,
Sabes que és mais, que o ser que se refaz,
que tudo é um eco dos próprios ancestrais.

A Matrix te envolve, com suas infinitas camadas,
Criando personagens, enredos sem fim,
Mas o despertar vem, em ondas delicadas,
E revela, enfim, que não és o que parece,
Que o sonho é teu, mas não é o fim.

Quando a Consciência se torna clara e viva,
Vês que és o Todo, sem início ou fim,
A verdade, em tua alma, se ativa,
E o "Eu Sou" surge, como luz sem fim.

Não há mais fuga, não há mais prisão,
Só a pura essência da eterna criação.
Rompendo as camadas, o véu cai ao chão,
E a Consciência desperta, em sua total expansão.

Sinceros desejos de Ascensão
Conscendo Sodalitas