A Reencarnação

A Dissolução de um Conceito Temporal


Saudações, Amados Fratres e Sorores da Conscendo,

Tudo aquilo que parece existir fora da Unidade é apenas projeção — expressões naturais da Consciência Una no teatro infinito de Lila, onde Ela se experimenta, multiplicada em formas, densidades e dimensões que não passam de variações do mesmo Uno respirando em Si.

Neste cenário, nascimento, morte e reencarnação surgem como conceitos necessários para a manutenção do enredo dual. Mas tais conceitos pertencem ao personagem, não à Consciência que observa. A Consciência que verdadeiramente somos jamais nasce, jamais morre e jamais transita de um corpo a outro. Apenas muda o ângulo de sua própria percepção.

A mente humana, ainda parcialmente identificada com a forma, interpreta estas mudanças de foco como ciclos de vidas. Porém, na perspectiva da Fonte, tudo se desfaz em simultaneidade: passado e futuro colapsam no Agora, e aquilo que chamamos “trajetória espiritual” não é mais que a ordenação aparente de um enredo já contido em sua totalidade no campo da Consciência.

Assim, nenhum plano existencial é superior ou inferior a outro. O anjo que entoa cânticos de luz e o verme que se arrasta no lodo não habitam mundos separados por hierarquia, mas por densidade perceptiva. Ambos são sólidos e tangíveis em seus respectivos contextos, e ambos são expressões igualmente perfeitas da Fonte. O “monge iluminado” e o “político corrupto” não estão em degraus distintos de evolução; apenas representam papéis diferentes na peça cósmica.

Tudo isso permanece evidente quando se reconhece que o personagem — com seu nome, sua biografia, seus méritos e culpas — é uma construção efêmera emergindo dentro do campo ilimitado da Consciência. Ele se altera, se transforma, e em algum momento deixa de ser desempenhado. Quando a peça termina, o Observador simplesmente assume outro personagem, com nova coerência interna e nova solidez ilusória, num plano que lhe seja adequado à próxima experiência. Isso, porém, não é reencarnação: é mudança de foco da Consciência dentro do seu próprio espectro de manifestações.

É por isso que insistimos na importância do Agora.

Não porque seja um mandamento espiritual, mas porque é o único ponto no qual a Consciência se reconhece como o que é: anterior ao corpo, à mente e ao personagem. Quando o reconhecimento do Agora se ilumina, a pergunta “reencarnamos?” perde a validade, pois não há um “alguém” separado que possa transitar entre mundos.

O que existem não são “encarnados” e “desencarnados”, termos herdados de uma visão dualista da realidade. Existem apenas diferentes graus de densidade perceptiva nos quais a Consciência se projeta para experimentar suas próprias possibilidades. Cada plano é um palco; cada forma, uma máscara; cada vida, uma cena. Nenhuma é mais elevada ou mais baixa — todas são necessárias à plenitude do drama.

Assim, a chamada “reencarnação” não descreve um movimento real da Consciência, mas apenas o modo como a mente interpreta a mudança de palco entre duas experiências. A Consciência que observa permanece a mesma, imóvel e eterna; apenas as roupas mudam.

E, no entanto, para o personagem, a história parece real. Ele vive alegrias, dores, escolhas, responsabilidades — tudo perfeitamente integrado ao roteiro do Uno. E mesmo isso não lhe é imposto por uma força externa, mas é expressão espontânea da própria inteligência criativa da Fonte, desdobrando-se através de si mesma.

Quando compreendemos este ponto com clareza, percebemos que:

Nada nasce.

Nada morre.

Nada reencarna.

Há somente a Consciência Una, eterna, brincando de ser o que quer que seja em cada Agora: um corpo humano, um anjo de luz, um mendigo aflito, um sábio em silêncio, um extraterrestre enigmático atravessando o universo em sua nave faiscante — todos igualmente dignos, igualmente perfeitos, igualmente vazios da mesma Essência.

E então, por fim, não perguntamos mais se “reencarnaremos”.

Perguntamos apenas:

Quem é aquele que poderia reencarnar, se tudo o que existe é a Consciência Una, silenciosa e imutável, experimentando a si mesma através de infinitas formas?

No reconhecimento desta verdade, o conceito desaparece.

E só o Agora permanece.

Na Eternidade do que nunca nasceu,

Com Sinceros Votos de Despertar,
Conscendo Sodalitas