Karma: O Jogo que Levamos a Sério Demais

Manual do Karma para Sonhadores Cósmicos


Saudações aos fratres e sorores da Conscendo,

Na Conscendo Sodalitas, reconhecemos que cada buscador carrega sua própria bagagem de crenças, experiências e descobertas. Entre os muitos conceitos espirituais que atravessam culturas e épocas, poucos foram tão discutidos, interpretados — e distorcidos — quanto o karma.

Este texto é um chamado para ir além da visão limitada de dívida e recompensa, explorando o karma não como sentença ou mecanismo punitivo, mas como parte de um jogo maior — um jogo que nós mesmos inventamos. Ao questionar as regras e resgatar nossa liberdade interior, abrimos espaço para um despertar mais pleno, no qual a culpa dá lugar à consciência e a rigidez se dissolve na compreensão amorosa.

Que estas palavras inspirem cada frater e soror a lembrar que, no grande sonho cósmico, somos mais do que peças no tabuleiro: somos os autores da história, e a chave da libertação já está em nossas mãos.

"Ao longo da história, o conceito de karma foi distorcido e reduzido a uma simples lei de causa e efeito, como se o universo fosse um juiz implacável que nos pune ou recompensa por cada ação. No entanto, essa visão é uma limitação criada por interpretações equivocadas. O karma, tal como ensinado por muitas das religiões, não é uma força cósmica inexorável, mas sim uma construção mental, alimentada por culpas e crenças autoimpostas.

Nas tradições ocidentais, carregamos o peso do pecado; no Oriente, fala-se em karma negativo — mas ambos são faces da mesma moeda: mecanismos de controle do desafio Terra. A maioria das religiões, em sua essência, não foi criada para nos libertar, mas para conferir dificuldade ao jogo, ao desafio no sonho que nós próprios originamos, e que se contrapõe ao objetivo final: o despertar.

Todavia, nem todas as tradições espirituais operam sob a mesma lógica. Muitas das correntes filosófico-esotéricas, principalmente as orientais — em suas essências não dogmáticas — apontam diretamente para a iluminação, além de conceitos comuns. Nelas, o foco não é acumular 'méritos' ou temer 'débitos', mas despertar para o que já somos: a consciência que observa o jogo e suas regras ilusórias.

Entretanto, até essas vias libertadoras podem ser distorcidas quando institucionalizadas. A imperfeição é inerente à dualidade — e isso não é um defeito, mas parte do desafio cósmico que aceitamos ao entrar nesta dança. A verdadeira jornada espiritual não está em seguir mestres, gurus ou sistemas externos, mas em desenvolver nossa intuição e conexão interior, que nos lembram de não trocar a liberdade por nenhum mapa, por mais sábio que pareça.

O karma não é uma sentença divina, e sim um fardo que carregamos por acreditar que merecemos sofrer em razão de possíveis ações pretéritas equivocadas. Ele é como uma mochila pesada, cheia de inutilidades, que podemos, a qualquer momento, decidir abandonar no chão.

É crucial diferenciar karma da sintonia vibracional: quando emitimos frequências negativas, atraímos experiências semelhantes, não por castigo, mas por alinhamento vibratório. Quem espalha dor, naturalmente colhe ambientes onde a dor prevalece. Isso não é punição, é física da ressonância.

Porém, em nosso paradoxal universo, mesmo a sintonia vibracional é igualmente um conceito ilusivo dentro do sonho. Afinal, quem vibra?

Vivemos nesta realidade para brincar no jogo da dualidade de nossa consciência. Se não houvéssemos esquecido de quem realmente somos e já soubéssemos todas as nuances do caminho, não haveria propósito na existência terrena. Na "escola da vida", um aluno é aprovado mesmo acertando apenas 60% das questões — afinal, o aprendizado se dá justamente nos erros e nas tentativas. No entanto, muitas das nossas religiões nos ensinam a temer até os menores deslizes, como se um momento de raiva ou uma escolha "equivocada" pudesse nos condenar a ciclos infinitos de sofrimento. Elas agem como um sistema que reprova até quem acerta 100% da prova, pois, sob seus dogmas, até um pensamento "impuro" ou um desabafo justificado podem ser motivo de punição eterna. E o pior: não é um juiz externo que nos condena, mas nós mesmos — quando internalizamos essas culpas absurdas e, assim, nos tornamos nossos próprios carrascos. Essa autocobrança desproporcional, e não algum débito cósmico, é o que nos mantém presos à roda de renascimentos, repetindo lições que, na verdade, já aprendemos.

E o que dizer daqueles que parecem desafiar essa harmonia, como os chamados psicopatas, que agem sem sentir culpa? Quem são esses seres sem remorso que perpetram ações desarmônicas, sem aparentemente surgir nenhuma força a lhes contrapor os impulsos? Eles não são exilados da Fonte Divina, como possa aparentar, pois Ela tudo contém, mas fractais temporariamente desalinhados com sua essência equilibrada. Nessa via divergente, manifestam a dualidade crua dos mundos densos, mas isso não é permanente. A Fonte, em sua infinita unidade, não rejeita nenhuma de suas partes. Mesmo os que se desviam profundamente do fluxo harmônico serão, em algum momento, reintegrados com amor ao Todo. Seus atos, por mais obscuros que sejam, fazem parte de um antagonismo extremo no grande tecido da experiência cósmica, dissolvendo-se como sombras perante a eternidade. Na luz que tudo permeia, toda separação é apenas temporária. Além disso, atitudes narcisistas e egocentradas, frequentemente associadas ao "mal", carregam em si uma natureza autodestrutiva. Ao priorizar persistentemente os propósitos imediatistas do ego, acima do livre fluir com os outros e da conexão com a Fonte, esses comportamentos criam um vazio interno, afastando o indivíduo da sintonia universal e gerando consequências que, por sua própria vibração, corroem a essência de quem as pratica, conduzindo-o a um ciclo de isolamento e dissolução autoimposta.

O jogo da dualidade só nos aprisiona enquanto acreditamos em suas regras — inclusive no karma como dívida. Quando despertamos, vemos que até os mestres mais iluminados trilharam caminhos tortuosos, pois a perfeição nunca foi requisito. O que liberta é a consciência de que já somos completos, aqui e agora.

Reforçamos: o que nos prende ao Samsara não é um débito cósmico, mas a culpa que internalizamos. São nossas próprias crenças de inadequação que nos fazem repetir ciclos. Quando compreendemos o jogo e elevamos nossa vibração, quebramos esses padrões e transcendemos as ilusões, inclusive àquelas relacionadas ao Samsara.

O karma tradicional é um um contrato em tinta invisível, que só existe enquanto acreditamos na caneta imaginária; a sintonia vibracional é a linguagem em que o universo de fato opera. Um é a história que contam; o outro, a mecânica invisível por trás do palco. O pulo do gato é perceber que até essa dualidade é parte do sonho — porque, no fim, quem deposita, quem resgata e quem vibra é o mesmo: você, o sonhador infinito.

Nobres fratres e sórores, lembrem-se: vocês não são apenas os personagens desta história. São os autores, seres infinitos, a própria Fonte, que exploram realidades temporárias. Além do tempo e do espaço, além da dualidade, já somos plenos. A liberdade está em despertar para essa verdade — e rir das regras do jogo que um dia nós mesmos inventamos."

Na eternidade do Eu Sou,

Sinceros desejos de Ascensão
Conscendo Sodalitas