A Verdadeira Morada no Eterno Agora

A Única Realidade


Saudações, Amados Fratres e Sorores da Conscendo,

A busca pela Verdade última esbarra, desde o início, no principal equívoco da mente: a crença na separatividade. Na realidade primordial, não existem "o aqui e o ali", "o passado e o futuro", nem a dicotomia fundamental entre "você e os outros". O que persiste, inabalável, é um eterno presente. Este nunc stans — o "agora permanente" — é a única base sólida, o pano de fundo contra o qual a Singularidade una observa o Lila.

O Lila, a dança cósmica, é a projeção matricial onírica, o mundo das formas, criado pela própria Singularidade para Se experimentar. Os infinitos planos dimensionais não passam de cenários diversos dessas projeções de sonho, observados por miríades de aspectos focais da nossa própria Natureza essencial — a Consciência Pura.

A Consciência, em seu impulso lúdico de experimentar a si mesma através de incontáveis prismas, fragmenta-se em inúmeros personagens. Cada qual observa um aspecto único do Lila, sintonizado a uma dimensão ou frequência específica. É crucial compreender que estes jivas (personagens individuais) não são falsos no sentido de inexistentes; são, antes, aspectos específicos e perfeitamente integrados da própria Consciência. Eles são o instrumento pelo qual o Infinito vivencia a si mesmo na ilusão da separação, na identificação temporária com o ego, mediante o divino e necessário esquecimento (avidya) de sua grandiosidade original — a unidade totipotente da qual tudo emana.

Desta forma, a mesma Fonte indiferenciada que somos nós mesmos na unidade — e que, no jogo da aparente separação, se expressa como a paz imóvel de um Buda, o amor compassivo de um Cristo ou a sabedoria cósmica de um Krishna — é também a que se experimenta como a sombra da divisão em um César, a ambição desmedida em um Napoleão ou o dogma cego em um Torquemada. Figuras admiradas e figuras condenadas, os iluminados e os tirânicos, os que ergueram altares e os que acenderam fogueiras — todos, sem exceção, são nós mesmos, são aspectos diversos do único Ser que somos, expressando-se no palco da dualidade. Na Unidade, não há julgamento, há apenas a infinita liberdade da Consciência de explorar todos os matizes de sua própria potencialidade, do mais sublime ao mais tenebroso, sabendo que, no fim de todo drama, apenas Ela, que é o que nós somos, permanece.

Se o espaço físico é uma ilusão consensual — pois nossa natureza última é não-local, é Singularidade, o tempo também se revela como uma construção. Ele é a movimentação projetiva de eventos empíricos, imaginados em uma sequência linear, necessária para o mergulho dramático no Lila. Portanto, a grande realização a ser apreendida é que apenas o Agora, o presente eterno, possui realidade substantiva. Ele é o único palco verdadeiramente relevante para a experiência da Consciência em seu jogo divino de parecer distinta de algo.

Deste insight decorre uma verdade revolucionária: nós nunca verdadeiramente nascemos, nem jamais morremos. O nascimento e a morte são eventos dentro do sonho, e comportam-se de modo análogo a uma mudança de domicílio. Ao trocar-se permanentemente de cidade, abandona-se um endereço para habitar outro. De forma similar, o que denominamos "morte" é simplesmente uma mudança de domicílio dimensional, uma transição de foco consciencial. A possibilidade de retorno ao "lar original" — o estado de Unidade consciente — está sempre presente, dependendo única e exclusivamente do nível de despertar do personagem em relação à sua verdadeira Identidade.

Neste ponto, alertamos para um outro tipo de morte, uma que nos leva a um domicílio capaz de nos ancorar ainda mais ao sonho e que surge das mais sutis e persistentes ilusões: a espiritualidade de fuga. O personagem, ansiando por escapar do seu próprio vazio narrativo, pode delegar seu poder e autoria a um guru, a uma doutrina externa ou a um conjunto de rituais — incensos, mantras, mudras, estados de transe — como se fossem varinhas mágicas para a iluminação. Esta busca, ainda que revestida de linguagem sagrada, é outra face da mesma moeda da separatividade. O personagem não deseja redescobrir-se; deseja salvar-se, tornar-se especial, alcançar um futuro iluminado. Ele se agarra ao contentamento do êxtase místico temporário, sem coragem de investigar a Fonte perene de onde esse êxtase brota. Toda tentativa de adquirir o que já se É, conduz a uma perpetuação do sonho inconsciente com nova roupagem. O verdadeiro Despertar não é um acréscimo, mas um desnudamento; não é a conquista de um estado, mas o reconhecimento do Único Estado que sempre vigorou, antes e depois de todos os métodos.

Se observarmos com rigor, sob um ponto de vista mental objetivo, perceberemos que morremos ficticiamente a cada segundo. Em um cenário de possibilidades infinitas, a cada bifurcação quântica em nossas linhas de tempo, uma versão de nós mesmos encontra uma falência física súbita. Esta constatação não é mórbida, mas libertadora: ela dissolve a solidez aparente do "eu" narrativo, revelando-o como um fluxo dinâmico e impermanente, um ponto de vista sempre em transformação. Não somos apenas o personagem que interpretamos agora; somos a totalidade dos personagens, em todas as linhas de tempo possíveis. Somos o Ator, a Peça e a Plateia.

Nobres Fratres e Sorores, o passado e o futuro não passam de artifícios narrativos, ilusões atreladas ao nosso personagem para que se delineie uma realidade dual, sob a égide de Kronos. Na verdade não-fragmentada, somos tanto aqueles que perpetraram os atos considerados equivocados, quanto os que realizaram os acertados. E esta própria interpretação de "certo" e "errado" é relativa, dependente de pontos de vista específicos dentro do sonho. A Consciência, em seu jogo, experimenta todas as polaridades, sem estar condicionada por nenhuma delas.

A realização, portanto, não é uma aquisição, mas um reconhecimento. É o despertar dentro do sonho para a natureza sonhadora de tudo. É perceber que o buscador, a busca e o objeto buscado são uma só e mesma Substância. O Agora não é um ponto na linha do tempo; é o espaço mesmo em que a linha do tempo parece se desenrolar. É o eternamente presente Ser que você sempre foi, antes mesmo da primeira ideia de "eu" surgir.

Ao repousar neste Agora, sem busca, sem fuga, o personagem relaxa sua contração identitária. E, no silêncio que se segue, a Singularidade reconhece a si mesma, brincando de ser um alguém, no eterno e amoroso jogo de esconde-esconde que é a própria existência.

Na Eternidade do que nunca nasceu,

Com Sinceros Votos de Despertar,
Conscendo Sodalitas